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quinta-feira, 24 de setembro de 2009

HAVIA

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todo dia tinha na minha casa
um cheiro de feijão novo,
um gosto novo de dia.

a hora da cozinha era às 12,
onde as conversas eram ligeiras,
coisa de família

via todos passarem cruzando a calçada
entre a cortina de renda que o vento
insistia em abrir

ficava sobre a pia e
dalí eu via, sentado à mesa,
no meu lugar de costume

pai e mãe na ponta,
e duas irmãs com restos nos pratos
de vidro transparente

meninas comem pouco
mas também comem com
os olhos.

minha casa era ainda de madeira,
tempo simples,
sem alvenaria

sabe que sinto saudade
daqueles dias, meus dias
de cesta

dias de nada,
de tudo um pouco
pra ser quem eu sou

havia esse garoto que eu era
existe esse cara que eu sou!
quantos anos eu tinha?

as memórias,
se repetiam
e hoje se apagam

não queria algo menos do que sorrir
e sem saber, sem saber mesmo,
sorria. como sorria!

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