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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

DO PONTO AO FINAL

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Esperar ônibus à noite, já passado às dez horas é muito tenso, principalmetne se você está longe de casa, em um bairro de periferia. A pior sensação é que você se sente um ridículo, tomado pela insegurança e ansiedade que exalam pela sua pele, num cheiro de medo estampado bem na testa.

Mais engraçado é que ali, onde pra quem mora no centro, protegido pelo pseudo-policiamento, está não a chance de mais um assalto, mas sim a incerteza de qualquer acontecimento neste aspecto. Engraçado mesmo porque, bandido que é bandido não faz sujeira na porta da própria casa. Não no seu bairro.

Então, parado, esperando o ônibus com meus amigos e mais alguns desconhecidos, surge um sujeito de calça larga, boné e barba mal-feita. Eu tremo. Tenho vergonha de lembrar que sou vítima de uma paranóia urbana que ganhei de presente após um assalto à mão armada numa "saidinha de banco".

- Cara, tem um real?

Não dei porque não tinha trocado, mas meu amigo me deu uma moeda que eu logo tratei de passar pra frente. Numa situação dessas, um ato de gentileza pode valer seu sossêgo.

Esse rapaz, talvez da minha idade ou um pouco menos, é um tipico estereótipo eloquente, são e lúcido, que ainda me perguntou as horas.

Pensei, murmurei, então, alguns quarteirões antes da minha casa, antes do meu ponto, ele se levanta e pede para o ônibus parar, num bairro até melhor que o meu.

O que eu faria se não achasse aquele um real eu não sei, muito menos se ele pediria para mais alguém. Só sei que uma moeda em dia de meia passagem não vale mais do que aquele "falou mano", antes de descer do ônibus, sereno e cordial, como um rapaz de 'boa família'.

Me pergunto se ele não é mais um desses que vão buscar um pedaço do seu vício em um lugar onde moram pessoas de bem como eu acho que sou, ao invés de bandidos como eu achei que ele fosse. Alias, bandidos também são vizinhos de gente boa em bairro bom. Essa paranóia precisa de um ponto final, um bom final pra todo mundo, e pra mim.

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