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sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Jantar pra dois

jantar pra dois

o homem de meia idade chega ao bistrô, os passos ecoam no chão de pedra da calçada antiga, cada um carregando o peso dos dias que já passaram. o terno casual se ajusta ao corpo como quem já está acostumado a rotinas inquebráveis. ele não precisaria ter reservado, mas fez questão. duas cadeiras, uma mesa para dois, dispostas como se o tempo não tivesse avançado.

a conversa começa fácil, leve, repleta de memórias. “lembra quando pedimos aquele vinho que quase derrubamos na mesa? a gente riu tanto”, ele comenta, tentando puxar o fio de algo familiar. a mulher à sua frente esboça um sorriso tímido, mas há uma distância no olhar dela que ele tenta ignorar. o garçom traz o cardápio, e, por um momento, hesita ao colocar os dois exemplares sobre a mesa. os dedos do garçom tremem levemente, mas ele rapidamente se recompõe e sai, quase apressado.

o homem abre o cardápio com uma familiaridade automática, mas o ambiente ao redor parece mais quieto do que deveria. ele lança um olhar rápido ao redor e percebe alguns olhares desviados, como se os outros clientes estivessem cientes de algo que ele não estava. “estranho, sempre foi mais movimentado aqui nas quintas...”, ele comenta, mais para si mesmo.

a mulher olha ao redor, um pouco distraída, como se o lugar fosse novo para ela, embora já tivessem ido ali incontáveis vezes. “talvez devêssemos escolher outro lugar da próxima vez”, ela sugere, a voz quase um sussurro, mas as palavras soam pesadas, fora de lugar. ele franze a testa, confuso.

"outro lugar? este sempre foi o nosso... por que mudar agora?" ele pergunta, a tensão começando a se acumular em suas palavras. o garçom reaparece com o parmigiana, suas mãos um pouco trêmulas ao colocá-lo no centro da mesa. ele dá uma olhada rápida na cadeira vazia à frente do homem, um olhar que parece conter mais do que deveria.

"talvez as coisas não sejam mais como antes", ela responde com uma calma inquietante, enquanto passa os olhos pelo bistrô como se estivesse observando tudo pela primeira vez. o silêncio entre eles cresce, e, ao redor, o som dos talheres e das conversas parece diminuir a cada segundo, como se todos ao redor estivessem esperando por algo.

ele pega o garfo, corta um pedaço da comida, mas o sabor não vem. é como mastigar lembranças, algo que foi mas não é mais. ele para por um instante, olhando para o prato, para ela. “não sei... tudo parece igual pra mim.”

os outros clientes, que antes riam e conversavam, agora parecem imersos em um silêncio estranho, os olhares fixos, mas nunca diretamente para eles. a atmosfera muda, pesada, e o homem começa a sentir o ar mais denso, como se respirar exigisse mais esforço. ele tenta puxar a conversa de volta, mas algo no silêncio dela o faz parar.

então, ele percebe.

desde o início, estava sozinho. a cadeira à sua frente sempre esteve vazia. as palavras que saíam de sua boca flutuavam no ar, sem destino. cada garfada que ele pensava estar dividindo era só sua. o parmigiana esfriava, imóvel, enquanto ele afundava lentamente na verdade. a mulher não estava ali. talvez nunca tivesse estado, não naquela noite.

ele pede a conta. os garçons não dizem nada, apenas o observam com a mesma tristeza distante de quem já entendeu tudo antes dele. as mãos dele tremem levemente enquanto paga. a realidade o alcança, mas não o destrói. ele agradece e sai. logo em seguida, puxa o celular do bolso. a vida continua, e ele começa a procurar um novo lugar para reservar.


quarta-feira, 8 de maio de 2024

retas

 Retas pra que se eu tenho as linhas


As tortas, grossas, entrelaçadas


Retas não duram, quebram

Linhas não dobram, se curvam


Retas são solitárias,

Linhas são paralelas


Retas não dão em nada

Linhas despontam em tudo

sexta-feira, 22 de março de 2024

SLOW MOTION

não é fácil

apreciar a vida 

não é fácil


a gente vê 

as cenas em correria

uma mentira desnecessária


mas olha pra ela devagar

como nos filmes

clipes e documentários


em slow Motion 

fica bonito

apreciável 


taí um efeito antigo

que quase saiu de moda 

ver a vida devagar

porque é essa que importa

quarta-feira, 13 de março de 2024

TUDO


 Poema publicado direto em 2020 no Instagram do Outras Folhas: https://www.instagram.com/s/aGlnaGxpZ2h0OjE3ODcxMDkyODU3NzUyMTc4?story_media_id=2453454192246721070&igsh=MXd1b3pzeWNrMjJ2NA==

ADORMECIDOS

Gosto quando a cidade apaga

As janelas dos prédios ficam escuras

E todos fingem que descansam


Gosto também das ruas

Vazias cheirando a neblina

Num profundo silêncio sublime 


Enquanto a madrugada avança

Pais de família custam a acordar

O cheiro do café vai tomando conta


Assim como uma onda

Cozinha após cozinha se  acendem

De longe a gente vê


A cidade retoma sua rotina

As pessoas acordam

E as casas voltam a ficar de novo sem ninguém

domingo, 10 de dezembro de 2023

amado - 22 fev 23

 Meu amado 

Te dedico este pensamento

De admiração e carinho

Pois deixar claro meus sentimentos se faz necessário

Ainda mais quando passa o tempo

E meu jeito de ser se torna diferente de quando eu era


Te admiro desde sempre

Cada história mais ainda

O homem forte que tanto superou

E também o menino esperto que anseia novas curas 


Pra esse homem e pra esse menino

Digo com toda fé 

Que muitos assim como eu

Enxergam isso tudo que nem você vê


Mas pare um pouco,

Respire outra vez

Lembre sempre de você

Em primeiro lugar você


Te amo meu igui 

Meu Igor

mnu - 14 março 23

 Amiga

Eu queria saber de vc todo dia

Se come bem

As comidas e os homens 


Se tua pele tá hidratada

E se teu coração tá limpo


Queria estar junto 

Nas minúcias

Pra você nem precisar contar pra mim 

Mas pra você contar comigo 


Te gosto vendo novos amigos 

Sorrindo sem acanhar o sorriso 


E nos milagres dos versos desse universo plano da história 

Saber que pode me encontrar em outras vidas

espanar 2 - 14 março 24

 spanar2

verbo

transitivo direto

BRASIL

desgastar o filete de uma rosca a ponto de não mais poder atarraxar.


Na vida espanar não é algo bom 

Vem de algo acumulado 

Que pesa, suja, dificulta o trajeto 


No dicionário também demora a se esclarecer 

É só no verbo transitivo direto que a gente entende o significado 


E o significado é duro 

Direto como flecha

Fura e faz mal 

Dói, cicatriza, mas deixa ferida


E nas batidas da vida 

Apanhar amolece ou endurece  a carne?


A realista resposta está na dúvida

Se apanhar vem do outro 

Porque eu é que me bato?


E pra quê?


No dicionário espanar também é 

No mesmo verbo

1.

transitivo direto

tirar o pó de; espanejar.

"espanou os móveis"

Uma limpeza 


Vem de algo quebrado 

E o que quebra, mesmo com o carinho de manter 

Já não fica em destaque 

Escurece, perde o brilho, fica triste 


Os cacos viram lenda 

A lenda vira legado

Mas aqui onde era barro 

Só se encontra areia 


Eu não vou mais reconstruir 

Vou fazer de novo

E levantar minha própria poeira

19 março 23

 Uma vez 

Em algum momento 

Abri espaços 

Que não mais fechei 


A franquesa com que respeito cada um 

É dura quando volta sem meu desejo 


Não 

Não desejo opinião alheia 


Sim 

Sim eu valorizo atitudes espontâneas 


E se na minha fortaleza

Os fracos escalam o muro 

Meus pilares ficam carregados 

Demasiadamente inseguros 


A porta 

O muro 

O meu forte 

É constantemente

Ameaçado por 

Muitas fraquezas alheias

26 junho 23

 Definitivamente não sou mais o mesmo 

Ainda que definitivo nada seja 

Eu mesmo já não me defino faz tempo 


Porque no reflexo da memória vejo incoerência 

Porque nos sonhos profundos vejo labirintos 

Porque nas atitudes todas vejo superficialidade 


E se até outro dia isso tudo só me afligia

Hoje, nesta noite amena a consciência me conforta

De certa forma indefinida,

Já não me tortura a sorte

E acreditar num amanhã melhor

Desenho

 Bato forte os punhos sobre a mesa 

As xícaras viram, os talheres batem

Todos se espantam 


Crianças choram dentro de pessoas velhas 

Com lembranças da hora 

De uma vida qualquer 


Ninguém mais quer 

Ninguém mais quer saber do passado 

Feito tatuagem estourada 


Lá está o desenho 

Embolado entre vontades 

Espetado nas profundezas da pele 


Bem mais, nem mais, sem mais 

Lavar o rosto, escovar os dentes 

Começar de novo que o tempo ainda dá

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

SUA FALTA

 A falta é cumulativa

Assim como uma visita inesperada

Nada se sente nos primeiros dias


Ela vai se mostrando presente

Ocupando espaços abertos

Num vazio incompleto de certezas


A visita, essa que vem e que fica

Ainda vive para voltar

Mas não demora ir embora


A falta, essa que você faz

Se acumula em camadas

Um dia após outro dia.

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

SEARCHING

Estou online 

Vejo as notificações chegarem

Transito entre as telas e abro meus apps

Mas eles não falam comigo 

Meus app fingem ser amigos 


Estou aflito 

Vago de um lado pro outro 

E imagino que um insight, luz ou aparição interajam comigo 

Mas eles não me mostram nada demais 

Só o feed me alimenta de  mentiras reais 


Abro o site do tarot online 

Entro no app e medito 

Leio um artigo do trampo 

Rezo por meu arbítrio 

Faço escolhas baseadas em fatos 

Mas os dados mostram que sou mais um ser repetitivo.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

CELULAR

Tendões 
Ossos e pele 
Músculos e órgãos
Tanto faz 
Descobri que não posso com elas 
Células 
Tantos anos em construção 
Comportamentos 
Aprendizados 
Elas 
Não posso com as células 
Mais rápidas que eu 
Mais simples que eu 
O que sou eu pras minhas células?
Se elas pudessem julgar 
Estaria eu no banco dos réus?

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

02:24

Redefino
a dor de uma rejeição 
para não mais me abalar 
além do suficiente 

Redefino 
os votos de confiança 
já que não inventaram um jeito 
seguro de prever decepções 

Redefino 
os critérios de tesão 
pois não dá para acreditar 
em uma só fonte de prazer 

Redefino 
o que me comove 
já que os anos me ensinaram 
a duvidar das pré-definições 

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

NO TURNO

Luz do dia é trabalho
Geralmente é trabalho
A luz que acorda
Põe o cara pra fora
Sem dó, nem preconceito

À noite é bem o contrário
Em tese é ao contrário
A escuridão que adormece
Faz coisas perderem sentido
E apenas existir ou esperar

A árvore balança
Sem proteger ninguém do sol

O semáforo cansa
De ver carro nenhum

O porteiro que dorme
Pelo menos pode escolher

Pra que dormir outra vez?


domingo, 28 de maio de 2017

Cavei um buraco no seu peito
Nele me enterrei até o talo
Nas armadilhas da vaidade


quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

MOMENTÂNEO

Venho há muitos anos
perdendo o sono
os cabelos e
os encontros

deixo meus buracos
preencherem
todos os espaços
até que as lacunas
pareçam o todo de mim

assim
depois de esgotarem
o ar ao meu redor
acabo sozinho aguardando
um novo sopro
se aproximar

que história subjetiva
tenho vivido
perdendo o fôlego
e os anos
sem me reencontrar.

domingo, 6 de março de 2016

15/01

Livre gesto atuar
Inconsciente do que viria então

Fosse meu o destino
Criava essa sensação
Verdade incumbida de se tornar

Minha tola necessidade
Paira desconcertante razão
Mentirosa certeza do nada

Quieto forjo um ser
Desconhecido de sua própria identidade
Sou eu quem deve ceder

quarta-feira, 26 de março de 2014

LAVA

Deixo passar o passado, passando pesado anos a fio. Como água, como ponte quebrada pra quem encontra outro caminho. Umas horas sinto falta, outras vezes impossível lembrar o que sinto. Muito, sinto muito ter vivido tudo isso. Intenso, usado momento promíscuo. Nem era, era bem vivido. Escorria o tempo jovem entre meus dedos, mas nada restou. Pouco  ficou  depois de você, tudo mais reinventei.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

TOMADA

A gente não corta, não edita, deixa rolar a película, sem roteiro, sem direção. Atua, interpreta, repassa a cena, ela jamais é igual. Muda, silenciosa, cheia de efeitos, de fãs. Duas horas de cinema, mil anos em uma sala escura de projeção. Não demora, jamais se interrompe em continuidade, sem fim. Enredo que se conta em dramas, suspenses, comédias e ficções. Ninguém sabe o final, mas todos choram no fim. No fim, sobem os créditos e lá estão só os nomes mais importantes. Tomada, cena 1, voltamos ao começo, o filme nunca acaba, a vida nunca tem fim.

domingo, 24 de novembro de 2013

NÓ DA GARGANTA

Fecha a boca, fecha o bico, faça bem feito.
Ande na linha, de cabeça erguida, durma cedo.
Chegue no horário, não diga bom dia, almoce correndo.
Sorria, não chore, não cuspa tudo.
Negue, deixe pra trás, olhe sempre adiante.
Não tem fim, não dá pra jogar pela janela, são muitos os tolos que te bloqueiam.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

FALSO POETA


não sou uma só leitura
não sou poeta de autorias
não sou autor de poesias
não sou homem de meias verdades
não sou mulher e isso é mentira
não sou hétero como de costume
não sou bi como os que são por aí
não sou falso canalha
não sou fácil alternativa
não sou santo com todo mundo
não sou puto todo dia
não sou político da semana
não sou ladrão da pracinha
não sou próximo da família
não sou distante de quem amo
não sou puro sangue
não sou páreo duro
não sou bunda mole
não sou pau firme na segunda
não sou indiscreto quando preciso
não sou inseguro quando posso
não sou isso tudo
não quero ser
não serei outro

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

CONTACT

"Hey Bob I'm looking at what Jack was talking about and it's definitely not a particle that's nearby. It is a bright object and it's obviously rotating because it's flashing, it's way out in the distance, certainly rotating in a very rhythmic fashion because the flashes come around almost on time. As we look back at the earth it's up at about 11 o'clock, about maybe ten or twelve diameters. I don't know whether that does you any good, but there's something out there."

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

TODA BARBA





























enrosca e enobrece a boca amarga
e enquanto afaga a mundana
paixão de hominídio
deixa o macho sem princípio
feito o galã da estação errada
de bem aparados pelos
que sem nenhum fio pro lado contrário
perdeu o status de gente careta

segunda-feira, 8 de julho de 2013

LIVROS

Tenho vergonha dos livros que não li, assim como teria vergonha de possuí-los como artigo de coleção, adquirindo volumes como peças frívolas de guarda-roupa, ou principalmente vê-los virar pilha de papel decorativo utilizado como pé de uma mesa. Não pela vergonha, mas pelo orgulho de tê-los lido, mantenho os que posso, enquanto posso, os poucos que tenho guardados comigo.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

SAPATOS SUJOS

Nunca impecáveis, não mais que o restante do armário, diferente porque parece estar menos limpo e cheiroso, quem sabe, um típico equilíbrio inconsciente, coisa de comportamento, uma falha de caráter pra mascarar um pedido de desculpas sem se colocar no mesmo nível de um mundo pisoteado pela ignorância e pela falta da decente humildade.

domingo, 28 de abril de 2013

O DIA POR INTEIRO

Amanhecer quando cotidiano,
ainda que profano seja o modo de viver,
é menos turvo do que passar noites em claro
levando a vida pro buraco.

Gosto do efêmero controle
de pensar neste exato momento,
que a caretice é de verdade,
meu mais sábio argumento.

terça-feira, 16 de abril de 2013

AOS DESAFETOS

essa tua cara lavada
olhar trucado, um truque
chora, reclama, mas não desabafa
não sabe, não tenta abrir
soltar amarras que deixam o mal sair

mina tudo à sua volta
pela falta de alegria
por uma simples ironia
que não tem qualquer fundamento,
mas se entristesse lamentando o próprio viver

eu, sem paciência
suporto, aguento um tanto,
mas dessa gargalhada
desajustada não deixo passar
e temendo rancor, engulo,
pra na tua cara não estourar

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

DE VOLTA AOS SONHOS

dava pra ver teus sonhos pelos teus olhos
que de tão brilhantes pareciam mareados pelo sal
das profundas vontades da alma
das veias tensas e conturbadas do teu sangue
gota a gota derramado pelo tédio do cotidiano
que mata a pureza do próprio sonhar
e aniquila a sábia noção do que é ter esperanças

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

ALGUMAS VEZES

nem que seja de vez enquando se quer seja algumas vezes
certos momentos não deveriam repetir-se
como quando você faz uma nota mental e se esquece
ainda que para lembrar fosse preciso repetir
reviver o mesmo erro que já havia cometido
algumas vezes a gente lembra e aí esquece de novo

.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

UNTITLE

Dava pra casar contigo, rezar uma missa, subir uma montanha, comer papel de uma revista, embalar o choro apertado de um bebê, cortar uma melancia em flor, cozinhar pra um quartel, mastigar pedra, roer azulejo, viajar sem beira, escalar ribanceira, pintar de rosa o céu, ferver água quente, congelar água fria e parar de escrever bobagem pra ganhar tua confiança e acertar sua jugular com toda essa baboseira romantica.

.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O FUSCA DA FAMÍLIA


Meu pai tinha um fusca. Durante mais de vinte anos andei com ele naquele pequeno carro que era a cara da nossa família. Sempre cabia mais alguém. Como filho mais velho, lembro de ter o banco de trás só para mim durante algum tempo. Deitava sobre as caixas de som e ficava sobre a janela traseira, encantado com as estrelas enquanto voltávamos de noite da casa de uma tia, irmã da minha mãe. Já com uns 5 anos meu pai me sentava no colo e me deixava guiar sobre seus cuidados, uns dois quarteirões. Eram bons tempos.

Com a chegada da minha irmã do meio, o banco de trás já não era tão grande. Dividia espaço com bonecas e doces espalhados, o que se estendeu até a nossa irmã mais nova chegar, 7 anos depois de um, 4 anos depois da outra. Alias o meio era um lugar do qual eu nunca faria parte e fazia questão de não caber. Não queria. Nunca coube. Parte das dores na coluna da minha mãe talvez ainda sejam por causa dos meus joelhos enterrados em suas costas. Certas vezes entravam mais pessoas como meu avô ou minha avó. Primos também se aventuravam no colo de alguém, o que colocava 7 ou 8 pessoas fácil lá dentro. Tenso, mas divertido.

Fato que viramos adolescentes mimados que se espremiam envergonhados no mesmo banco de trás. Nessa fase, confesso, jurava não fazer mais parte do volks do meu pai. Eu havia ficado muito “melhor” do que aquele velho carro comprado de segunda mão de uma japonesa simpática que ainda me lembro bem. Lembro também de algum tipo de chacota, bobagem de moleques da escola. Sempre eles, sempre aqueles invejosos com o melhor carro e o pior pai. O contrário de mim, que andava num carro simples, mas com o melhor pai do mundo.

E esse carro era parte dele, acho que ainda é. Mesmo enquanto todo mundo dizia que ele precisava de um veículo maior, um “carro de verdade”, talvez sem grana ou por pura falta de vontade, o velho Fusca sempre teve prioridade, garagem exclusiva, era um VW. Polido em casa, limpo até onde dava, revisado pelo mesmo mecânico eternamente. De fazer inveja a outros apaixonados, que por onde quer que a gente passasse, os caras ficavam sempre encantados. Mas os anos judiaram bastante do velho carro redondo, daquela nave espacial branca com rodas modernosas instaladas depois de um rolo feito em 96.

Nessa história, um dia o Fusca do seu Rodolfo foi embora, veio um Fox. Bonito, confiável como ele sempre disse que eram os outros carros da mesma marca. Opinião de motorista profissional e registrado. Talvez o mais apaixonado. Mês passado, visitando meus pais no interior, estava na cozinha com minha irmã mais nova, quando reconhecemos da rua um ruído familiar. Logo em seguida parou um Fusca branco no portão de casa. Igualzinho. Era um amigo do vizinho, apenas. Na nostalgia de alguns segundos, nos olhamos bem no fundo dos olhos e sorrimos. Acho que o que passou pela cabeça da gente foi a lembrança de alguém da família que não estava mais ali, mas que foi bom enquanto esteve com a gente.



segunda-feira, 24 de setembro de 2012

PRISIONEIRA

Tenho a vida como minha prisioneira debaixo do peito. Sem que se liberte, a vida conta os dias sem parar e sem fugir, correndo em círculos pela cela da alma e do flanar que o pensamento e os projetos, metas e missões a levem daqui. Embora a vida presa nos sonhos não seja de fato triste, sabe q se libertar de si é encontrar sua própria rota de fuga para um mundo q a espera.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

RELICÁRIO


Me deu saudade dos meus 21 anos, da irresponsabilidade sabida em que eu vivia, em clubes até a madrugada enquanto Love You Tear Us Apart tocava pra mim, que esperava na ponta lotada do bar. Era tudo romance, relicário. Uma ideologia romantizada sobre meu futuro, sobre aquele presente. No fundo, eu só estava aproveitando o momento. Passou tão rápido, durou tanto pós-sofrimento. Mal sabia que depois de tantos anos, ouvir esses sons chiados ainda pudessem despertar algo além do gosto e deixar na saudade impressa nos ouvidos, os passos das baladas embriagadas mais londrinas da minha vida.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

CAMA CHEIA

nem que tivesse nascido ontem crescido sem companhia numa longínqua casa de campo
criado sem afeto ou contato teria deixado de perceber que sozinho vivo meu espaço
e acordo protegido do meu cansaço de lidar com o espaço alheio e com desejos que não me dizem respeito
porque sou feito de uma falta de programação que não me alegra mas também me regenera justamente porque tudo fica chato quando fica previsível e marrento ou manhoso



.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

POSSO

Posto mais do que penso que gosto /
Penso menos do que acho que posso /
Posso mais do que acho que faço /



.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

JUÍZO

para onde foi esse furor
veias saltadas e músculos contraídos
enrugando os mais aflitos
pensamentos deixados de lado
à sanidade emocional
com perfeitos motivos bobos
para implodir em questão de minutos
no improvável cessar do juízo


.

terça-feira, 24 de abril de 2012

FICO

Fico tão impregnado da sensação da tua pele que é dificil não querer tocá-la de novo.
Fico tão manso e calmo em teus braços que é impossível não prender-me a ti.
Fico tão contente e alegre que o tempo parece mudar de cor, ganha um tom diferente.

.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

UM MOMENTO SÓ

por um momento perfeito
por um adendo deleito
te amanheço comigo
dormindo ao te lado
acordado em brasa
no calor da minha própria chama
convencido de teus laços
todos os lados
do nosso agora encontro
casual de tanto tempo
atemporal daqui adiante


.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

BATALHAS

Tomei as rédeas,
agora ninguém mais me espera,
saio ileso das minhas próprias  armadilhas.

Ganho o pão,
visto a armadura do cotidiano
e saio pra minha batalha
só pra vencer.

Sem dúvida a maior descoberta
entre tantas vitórias
é passar raspando nessas minhas
grandes batidas.

.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

DORIAN GRAY

meu flerte é cotidiano
e reparo o tempo inteiro
em teus cabelos
tua pele dura, curvas fartas
detalho pelos e extremidades
com tanta veemência
que me acostumei a tocá-los
enquanto fito desconfiado
essa imagem latente

alto quando olho para baixo
gigante me volto para cima,
todos esses anos admirando
o pequeno porte em cada pedaço
de fragmentos desmascarados
pelo tempo e pela
mais pura vontade de seduzir
e de se vender

não me satisfaz sua face
queria te ver por completo
frente e verso além desse
espelho, desse lado
obscuro no detalhe que
só os outros podem ver
sem que saibam o quanto
sou extremamente
apreciável por inteiro

terça-feira, 10 de abril de 2012

LEMBRANÇA

Doce favo apunhalado por desejo lambuzado de dor e prazer, tens primeiro retirado o selo do medo de morrer na intensa ânsia de gozar-te a alma, sua história e todos aqueles que passaram pela tua cama, pela tua memória e que hoje já não se lembram do teu corpo, do teu hálito e dos seus cabelos macios como água morna, dos olhos claros e grandes ou dos lábios gelados e provocantes, não, nenhum deles se lembrará tanto quanto só eu poderei.
.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

COMO É...

Pura tua nuca na minha boca nua
minha palma na sua cintura

dedos meus perdendo tuas fronteiras
contidas carícias de resignação

os caminhos se abrem e fecham
nossas incertezas sujeitas a falta de noção 

viram as costas para o pecado e
absorvem imaculadas doses de perfeição

sem pudor ainda que sem amor
mas quem sabe daqui a pouco?

.

terça-feira, 3 de abril de 2012

ESTIVE

ao seu lado
com você
manhãs claras
noites rubras
contigo
juntos
tardes vadias
tardes inteiras
longe
sozinhos
noites intermináveis
manhãs ininterruptas
incríveis
incontroláveis
tarde e noite
madrugada adentro
incansáveis
valentes
noturno em despedida
dias e dias
indo embora
para sempre


.

domingo, 1 de abril de 2012

LITERAL

o romance cantado no segundo sentido
espera respostas simples e verdadeiras
com sinais amenos de uma cumplicidade possível

ao abrir caminho pelas arestas
das outras vezes e de nossas trombadas por aí
acaba que se manifesta uma peça, um jogo

o signo, o vestígio harmonioso e hipotético
combina e também aniquilia as primeiras impressões
por características impregnadas de interpretações errôneas

o gesto, o afeto totalmente descopromissado
leva a crer que existe ou se procura afinidade,
mesmo que gostos e idade sejam completamente diferentes

a tragédia é esperar sentado
fingir uma linha distante e intocável de proporções,
de propósitos, um romântico convite ainda não realizado

e dando voltas pelo teor da conversa se espera ter chegado
ao ponto de ser compreendido que não há nada literal nisso
e que apenas algo sincero foi dito

.

sexta-feira, 23 de março de 2012

FRIDAY

Dressed up to the eyes
It's a wonderful surprise
To see your shoes and your spirits rise
Throwing out your frown
And just smiling at the sound
And as sleek as a shriek
Spinning round and round
Always take a big bite
It's such a gorgeous sight
To see you eat in the middle of the night
You can never get enough
Enough of this stuff
It's Friday I'm in love...

.

segunda-feira, 12 de março de 2012

PÊS

sou cheio
de problemas
de piras
de pólices
de pares
de poréns
de preguiças
de paixões pueris
de pormenores
pausas!


.

domingo, 11 de março de 2012

BEIRA LUA

a lua me faz companhia
me brilha, me ascende a alma vazia
uma falta a lua me traz
dos desejos banhados ao luar
e de amores quilômetros distantes
promessa vencida do quê?
se ao olhar para a lua ainda vejo você
e você ainda lembra? será que no céu me vê?
a face da lua perdida na tua
minha face ao contrário e nua
o avesso da nossa cara metade
sinceramente não é culpa da lua
que agora já se vai tarde
cheia de mim até assim se esquecer

.

terça-feira, 6 de março de 2012

DESKTOP

miudezas sobre a mesa
mensagens coladas para quem?
1 centavo atrapalhando no
fundo do porta lápis vazio
de mundanas coisas pueris
o giz, a tampa da caneta estoporada,
borracha e adesivos perdidos
100 tranqueiras, pecinhas
colecionadas numa montanha
de tédio, de um prédio,
sem remédio para curar,
alias há pílulas de alguma
coisa embaixo do monitor
e que fiquem por lá curando,
curtindo um bom desktop



.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

TÁ ERRADO

tá errado querer que acabe o mês pra receber outra vez
tá errado a semana passar e você não ver o sol levantar ou descer
tá errado não almoçar em casa, jantar qualquer coisa e dormir
tá errado extravasar na euforia e rolar de bêbado em catarse
tá errado segurar a onda, sufocar o orgulho, obedecer
tá errado mandar, humilhar ou somente endurecer
tá errado querer só mais e não olhar pra trás, passar por cima
tá errado fingir ser capaz e dizer sim quando o não tá estampado
tá errado e tá errado, tá errado, tá muito errado mesmo



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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

SOCO NO MUNDO

ladainhaladanada
estritamente
estruturada
minininha
uhlalá
sermão pouco
pra lá e pra cá
voltemeia
vamos dar
um soco
no mundo
inteiro baby


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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

GOTYE

UM LONGO PESADELO ACABOU

tive um pesadelo com uma ovelha que pastava sobre o azulejo
estava de costas mas conseguia ver seu pelo cheio de nós
minhas pernas tremeram com seus olhos vermelhos
mas ela não deixava de ruminar se quer um azulejo só
não era alta nem baixa a ovelha era branca e tinha crina
assassina parada me fitando na transparência da alma
a ovelha branca sabia que ali não havia comida
mas continuava a me fitar pois sabia que eu ainda estava ali


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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

IRREAL DEMAIS

se repetiu aquele sonho obscuro
nunca havia visto teu rosto
ao que sua feição não me parece estranha
é que para mim você nunca existiu

pelo enredo desconexo e duradouro
daqueles minutos de sono intermináveis
o começo meio e fim de um romance
transe sem endereço com uma transa no meio

uma trama que me joga assustado à lucidez
da manhã corrida e do horário atrasado
seu tamanho, forma e força pareciam hipereais
demais até para minha própria imaginação

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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

GAVETA

a sua gaveta foi ficando funda
apertada para tanto sentimento
para tanto desgosto reprimido
estourando de emoções rasas
aflições repetidas nas sombras
de uma grande caixa esquecida


...


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sábado, 24 de dezembro de 2011

FAGOCITOSE DE NATAL

Melhor nem continuar lendo...

Seus olhos e seu jeito embargado de falar não escondem tua fraude, uma farsa contada pelos cantos em conversas que nunca existem, quase sem valor. Tomados por completa falta de apego, os dias vão passando enquanto as palavras que você não diz soam falsas, puramente um processo interno de fagocitose. Você come suas próprias mentiras, aquelas que não afetam basicamente a ninguém mais além de você. Uma após a outra, erros fáceis, duras quedas, macio é o conforto da preguiça e acomodação. Olhando em volta, quem diria que estaria nessa merda antes dos trinta?


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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

SEM DIREÇÃO

ouço sons de todas as partes. em um ambiente fechado, pessoas conversam ao
telefone com outras pessoas em outros ambientes fechados. à porta aberta da
sacada, deixa passar um ruído que as árvores fazem com o bater do vento. pássaros
também, um ou dois e só. ouço meus dedos tocarem letra por letra de um teclado
preto, branco. ouço meus pensamentos enquanto escrevo. passa um avião. volto
aos meus pensamentos, penso no que vou almoçar, são 10h51, o sol está forte, um
dia bonito. volto a pensar que estamos no fim do ano, 16 de dezembro, menos de
quinze dias. estava a pouco conversando com um amigo que me perguntava sobre
meus planos, se plantei sementes para o futuro. ouço de volta meus pensamentos
e me vejo inseguro, será que plantei mesmo algo para o futuro? meu presente é
como tenho vivido há alguns meses, semelhante a forma como tenho escrito esse
longo texto fora de sentido, apenas plantando cada letra no caderno da minha
história fraca e incoerente. penso outra vez e não sei, a conclusão, não sei o
que estou fazendo ao certo. desejo apenas estar acertando em cada erro.




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terça-feira, 22 de novembro de 2011

JULES SINGS

This song was in my head, now it's in my mind,
call it reach it get some words and get some timing.

And though I realize, I can't emphasize, I'll stick
around but just don't promise, nothing binding.

And baby can't you see, that you're so desperately,
a standing joker like a vocal one-liner.

Instead of sing-a-long, this song is monotone,
I've gotta get some soul I gotta get some feeling.




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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

SE NÃO FOSSE CAFÉ

se eu não tivesse ido lá
se não tivesse parado ao teu lado
se não tivesse notado teu falar
se não tivesse afundado em teus olhos
se eu não tivesse te visto sorrir
se eu não tivesse te visto sorrindo pra mim
se eu não tivesse te procurado
se eu não tivesse te achado
se já soubesse teu nome
se eu já soubesse o que eu espero
e se eu não sonhasse contigo
acharia que ainda estou dormindo.


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sábado, 22 de outubro de 2011

CHORE ENTÃO

choro de raiva,
por não entender,
choro de grito,
choro de expressão de emoção,
choro por ser o que se pode fazer,
agora, neste momento.

POR FABI QUEIRÓZ,
no msn.

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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

COURAÇA

seu redor é silencioso
claro covil de incertezas
tais maneiras imprescindíveis
uns egoístas cantam teus erros
e derrotam teu futuro presente

dos lados toques e rabiscos
sem um bom motivo para existirem
uma promessa em vão
de quem vende alma e coração
que apaga a brasa no teu

eles não te ouvem de verdade
desconsertam seus princípios
e ignoram, arregaçam tua couraça
porque sozinho você mal pode gritar
todos os dias um de cada vez


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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

CALENDÁRIO

as páginas viradas
folhas rasgadas
já ficam para trás

na primeira foi um olhar
na décima segunda, uma noite juntos
na trigésima então havia um presente

datas seguidas
uma após a outra
acabavam se combinando

na sexagésima terceira rolou uma viagem
na sexagésima quinta já retornando
na octogésima sétima foi quase matrimônio

365 dias passaram
logo estarão comemorando
o 1º olhar do qual se lembram tanto

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

VOCÊS DOIS

as vezes me afasto
longe de você
torno o tempo um aliado
e evito machucar
não a mim
mas a quem nada
tem a ver
com meus altos
e com meus baixos

ciúme e inveja
assim de verdade
não dá pra negar
que aquela pontinha
de insegurança
que já não nos aproxima
também me expele
pra dentro do meu
casulo de frustrações

culpa tua
que não me deu tempo
culpa minha que
perdi o ponto de partida
mil desculpas por
me fazer esperar?
agora é você
quem não está só
e eu continuo
o lamento.
que tormento...
alias, nunca te vi.


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terça-feira, 18 de outubro de 2011

SOZINHO NA MONTANHA

de verdade,
quero estar só
e querer estar só
para não querer alguém,
então sabendo que
não quero ninguém,
evito o que há de acontecer,
já que acontecendo
talvez apareça,
mas não serei eu
quem estará procurando.

Ainda não quero descer.



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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

IMPERFEITOS

teu nome e teu sexo
tua fome de acreditar
sua novela para esquecer
teus amores e temores
inimigos teus de cada dia

teus e meus

tuas armas e tua inocência
teus míseros centavos
seu olhar de cão sem dono
tuas noites e exageros
falham tuas parcerias

minhas e tuas

tuas ideias e poesias
teus papos e prozas
suas canalhices prazerosas
tua falta de vergonha
que toma teu tempo

tuas e minhas

tuas e minhas
todas minhas

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terça-feira, 30 de agosto de 2011

A FERIDA

por tanto tempo escondendo a ferida
tapando com o dedo um buraco profundo
sem se quer se dar conta de que a
fratura era exposta, completamente visível



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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

GENTILMENTE ROMÂNTICO

o amor feito de gentilezas
claras e irrefutáveis atitudes
em singelas hamenidades
do cotidiano

uma navalha emprestada
ou uma conta em meu nome
um te levar pra casa hoje meu bem
quem sabe um faz de conta

pedante e sofrido pra
quem observa de longe
com as regras dos romances
tontos, mas que no fundo
também dão certo.

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terça-feira, 16 de agosto de 2011

NÃO ENVIADA

mandaram umas cartas aí pra mim
gente entrando na minha vida
pela porta da frente sem bater
passavam por debaixo da porta
sem saber se era o lugar certo

primeiro vinha uma,
em seguida outra e mais outra
tanto que pela tomada ansiedade
as letras se misturavam
e nenhum parágrafo fazia sentido

a correspondência cheia
recados dados e compreendidos
de amores partidos e corações calados
descritos pequenos pedaços de
carência e amolação

não que não sejam lindas palavras
mas só de letrinhas não sobrevivem
amores, encontros e esperas,
uma vida inteira debaixo da porta
precisa sair para receber a encomenda


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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

VAZIA COISA NENHUMA

meus dedos começam a digitar
enquanto imagino como dizer
que estou com a mente vazia
e que sem prescedentes negativos
não estou pensando em problemas.

digito a última letra e
me recordo de que deveria lembrar
de pendências, dívidas e atrasos,
mas nada disso vai tirar meu sono
como fizeram durante anos e anos.

ainda digitando cada palavra,
expurgo tormentos egoístas,
apuros desses que todos têm passado
e me concentro na única melhor imagem,
minha mente em preto e branco.

reviso os últimos parágrafos e sem julgar,
leio poucas rimas nas últimas linhas
e vou escrevendo sobre minha cabeça
cheia do mais completo nada,
positivo contar de coisa alguma.

encaro o último parágrafo e sem saber
percebo que hoje já é segunda-feira,
de madrugada, hora de dormir sem que nada
e nem ninguém me façam esquecer
da certeza de que tudo vai dar certo.


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quarta-feira, 27 de julho de 2011

SÍNDROME

se afaste de mim pois sou contagioso
sou doente e minha carência pega
uma síndrome que se repete na
humanidade burguesa de
criatudas jovens e ambiciosas
perdidas entre moedas e sonhos

se afaste de mim pois estou contagiado
sou transmissor desse pensamento vago
uma ferida que distrai olhares
do sorriso lindo e apagado amarelo
escondido entre feições mascaradas
entre roupas e sensações sujas

se afaste de mim pois estou contaminado
sou portador de uma tristeza alérgica
uma coceira que sinto ao encontrar
a alegria perdida no olhar de menino
um desafio que travo comigo sem remédio
sem tratamento até que eu decida me curar

Data original: 24/07.

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domingo, 24 de julho de 2011

INTERIORES

acordar com a sensação
de um imenso vácuo
quente e suado
vazio de fora pra dentro
frio de dentro pra fora
sem rumo e sem medo
confuso e perdido
apenas ligado ao fio
de um cobertor macio
companheiro quieto
confidente da minha
calada consciência


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domingo, 17 de julho de 2011

BOM NO FINAL

bom você sabe por que
só não sabe por onde
no final sou eu quem te
responde aonde fica o começo
e te conheço ainda que te duvido
e te desconserto no meu mundo
no quarto branco de nada
no meu peito brando de tudo

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quarta-feira, 13 de julho de 2011

UM CERTO CAMPO

ouço longe tuas palavras
distantes sílabas sem tom
que ecoam marginais
entre meus pensamentos

com razão te alivio de mim
separo os grãos da semente
e do frescor da novidade
para plantar e colher

um campo, um tanto nosso
sem conhecer meu alicérce
meu solo e teu chão
colho apenas sonhos

eu aqui e você onde for
me diga algo mais
algo que não saiba
e assim vou semeando
nosso ambíguo caso

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segunda-feira, 4 de julho de 2011

PRESA

você é um caçador casual
que se prepara para pular
com unhas e dentes afiados
mas que agarra sua vitima
de um jeito tão eufórico
caindo na própria armadilha

no seu estilo perdigueiro
a atração é uma arma intuitiva,
constrangedoras meia dúzias
de sinais e atitudes desordenadas

no fundo você não quer ser presa
e apenas espera ser recolhido
da suposta renúncia
e ser levado para casa
como um animal sem lar,
como um cão sem dono.


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quinta-feira, 30 de junho de 2011

AGUARDO, ESPERO VOCÊ

eu queria te perguntar o que você quer de mim
o que você pensa toda vez que me vê
ou o que você espera que vá acontecer entre nós
além disso queria poder prever um futuro pra gente
sem que os fatos fossem assim tão definidos
e que a surpresa estivesse em nos surpreender
e queria ainda te falar que estou esperando algo
mas eu juro que não é algo que você não possa me dar
e juro que não é aquilo que eu de fato espero
pois apenas aguardo e deixo acontecer.

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terça-feira, 28 de junho de 2011

ENCANTO

quem me canta
com misterioso falar 
sem se quer me tocar
tem um nome que conto
em horas e dias saber
que queima e canta comigo
sem mostrar sua voz
traz um ritmo novo
e sem mostrar alvoroço
antes do tempo caio
no seu encanto


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JUST LIKE HONEY

segunda-feira, 27 de junho de 2011

CAM

quero confirmar minhas dúvidas
esquecer as incertezas
e flutuar com você até adormecer

sem deixar que os credos e as diferenças
façam parte dos nossos sonhos ou
da minha esperança de te conhecer

preciso derrubar meus medos
feito apenas da falta de contato
de um muro inteio que nos distancia

se de longe a gente se vê
próximos apenas duas janelas
confesso a verdade que sou

quando perto um dia estivermos
prevejo respostas sinceras
enquanto observo você falando

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domingo, 19 de junho de 2011

ESTRELAS NA JANELA

embaçando o vidro da porta
da sacada do meu quarto
vejo as estrelas no céu limpo do inverno
sozinhas fitando o tempo passar
na clareza da lua cheia de bilhões de anos
sinto o perfume da ausência me tocar
e tocar a distância do ar que me coça
do ar que me envolve pelas frestras
um sonho dessa noite que enobresse
à solidão que me celebra no próprio sono
um a um esquecido como o elo das constelações
nada mais singelo aque o som que ouço
ao respeirar enquanto a janela me desconecta
do mundo à fora num convite à sair
e ver o seu outro lado.

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quinta-feira, 2 de junho de 2011

UM TAPA

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hoje tomei um tapa na cara
um chacoalhão bem dado

na madrugada fria e bêbada
durante 40 minutos sozinho refleti

vi que continuo infringindo
minhas próprias perspectivas

desorientando o rumo da minha vida
até encontrar equilíbrio e continuar

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ENJOY

terça-feira, 31 de maio de 2011

MAIS PROFUNDO


Fiquei apor aqui
não fui eu quem foi embora
não levei nada de você
e também não trouxe nada comigo
apenas carreguei um pedaço
que perdi e que já não encontro
desde quando mandou pros ares
quem eu pensava que fosse
mandou sumir com
o amor que pensei existir
anos atrás te vi fugir
e desde então
essa lasca me enterrou
uma farpa afiada e sem encanto
boba e infantil como é esse lamento
que cravo sem dó ainda
mais e mais fundo



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domingo, 22 de maio de 2011

SERÁ?

tenho sempre sonhos para acordar
tenho os mesmos 10 anos de idade
os outros tantos em reciprocidade
tenho somado todos até dar 25, 26, 27
contato errado meus infernos astrais
deixado de lado alguns ciclos vitais
tenho ignorado o equilíbrio da solidão
tentado recuperar o equilibrio na imensidão
permitido encontrar equilibrio sozinho comigo
tenho andado colado nos amigos pra todo lugar
conhecido e conhecidos novos e lindos
paixões invencíveis e apaixonados recados
tenho ouvido mais música dentro de mim
sons que noto no compasso da melancolia
escolhendo os minutos e os segundos da canção
nada longos e nem alongados demais
tenho comemorado comigo a quantidade
dessas expectativas todas que levo pro amanhã
minhas simples e intuitivas estratégias de brincar com a vida.

Alanis Morissette - Into a King (publicada em 22/05/2011).



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terça-feira, 17 de maio de 2011

ESCREVENDO

vou lançar um livro com seu nome
e escrever em cada uma das mil páginas
nossa biografia sem presente e sem final
sem meio e sem começo definido
um conto que assisto sentado sozinho

com letras de músicas e poemas
das nossas horas vagas e dos feriados
te dedico meu sentido e te enfeitiço
como um mágo cheio de palávras bonitas
termos e frases feitas sem motivo

está tudo escrito em cada história
que irá acontecer e em todas as
nossas glórias do futuro por vir
a narrativa perfeita de um romance sem dó
de uma só mão em nosso pensamento


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segunda-feira, 16 de maio de 2011

QUANDO ACONTECER

quando eu quiser você vai conhecer minhas quatro paredes
quando eu puder você vai entender minhas portas fechadas
quando eu entrar você vai saber que consigo permanecer
quando eu sair você vai querer me fazer voltar
quando eu voltar você vai me pedir para ir embora
quando eu for você vai me puxar pela mão e me fazer sofrer
quando eu permitir você vai me ligar de madrugada
quando eu demorar você vai querer desistir de falar
quando eu precisar chorar de saudade e não vou dizer
quando eu reencontrar você vou parar de soluçar
quando eu contar para alguém quem é você eu vou sorrir
quando eu lembrar de você sozinho eu também vou sorrir
quando eu tiver de escrever vou repetir seu nome sem parar
quando isso acontecer todo mundo vai saber e você nem perceberá.

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THE KNIFE - HEARTBEAT

segunda-feira, 18 de abril de 2011

FOGO

sinto um calor novo
velado calor saboroso
sem velas e ainda
sem abraços apertados

sinto um calor gostoso
meu próprio acalorado
com tantas gotas de água
e uns tantos nós na garganta

sinto um calor acanhado
sutil calor do passado
impregnando meus braços
sem espaço para pensar

sinto um calor apertado
na alma e no peito quente
e com meus pulsos pregados
todos os martírios se vão

sinto um calor de verdade
meu e só na minha presença
esquentando a alma inteira
com todo o fogo da carne


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domingo, 10 de abril de 2011

AMO DEPOIS


Seu amor tem um novo amor
amando antes mesmo de você
deixar de amar o que você ama
amando esquecer, amando enganar
amar, respirar e sonhar

seu amor tem um brilho novo no olhar
já o seu não reluz como antes
em você não reflete mais
mudou de endereço seu amor
agora mora com você mesmo


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